No dia 18 de maio de 1973, na cidade de
Vitória Espírito Santo, Aracelli, uma menina de oito (8) anos, foi raptada, drogada,
violentada sexualmente e, já morta, teve o corpo carbonizado por um grupo de
jovens da classe média alta daquela cidade. Apesar da natureza hedionda, o
crime prescreveu impune. Foi em menção a esse crime que a data foi escolhida
nacionalmente como o dia de combate à pedofilia através da lei nº 9.970/2000.
O Disque 100, serviço do governo Federal
que recebe denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes registrou
mais de dois (2) milhões de denúncias desde sua criação em 2003 até abril desde
ano.
Conforme dados revelado no relatório
final da CPI da Pedofilia e, segundo estudos da UNICEF, os maiores abusadores
são familiares ou pessoas que tem algum convívio cotidiano com as crianças,
como vizinhos, amigos da família e professores. Fato este que precisa ser explorado
com maior atenção pelas instituições que têm a criança como público-alvo de
seus programas e projetos sociais, sensibilizando famílias, educadores e
parceiros quanto a esta problemática social.
Nesse sentido, faço uma reflexão sobre
como podemos proteger as crianças. Sempre que surge esse tema, penso que a
melhor ação nesse sentido seria levar o assunto para a própria criança, na sua
linguagem e nível de compressão de forma que ela possa se proteger reconhecendo
o ato como violação e revelar a alguém de sua confiança.
É preciso tratar do assunto de uma forma
embasada, envolvendo a criança e seu círculo social, com uma linguagem
facilitadora que a possibilite evitar ou
sair de uma situação de abuso.
Como passar essa mensagem? Como ela será percebida? Quais ferramentas devem ser
utilizadas? Visualizo que todas e quaisquer uma, passam pela educação:
Educadores recomendando aos pais que conversem sobre o assunto com suas
crianças. A informação é a ferramenta mais acessível à criança para
proteger-se. A consciência de que havendo casos na família que denunciem. O silêncio gera impunidade. A TULLU
REVISTA ao tratar do assunto menciona duas falas de pedófilos condenados, eis
uma delas: “Os pais são em parte culpados, por não conversarem com seus filhos
sobre questões sexuais, usei isso em meu proveito, ensinando à criança eu mesmo”.
Estudos revelam que as consequências do
abuso sexual infantil são várias e comprometem o desenvolvimento cognitivo,
social, comportamental e emocional da vítima. O fato de haver “o segredo” gera
depressão e ansiedade.
No Brasil a existência de livros
abordando o assunto que possa auxiliar pais e educadores é quase inexistente.
Com esse tema foi lançado esse mês o
livro “Segredo Segredíssimo”, autoria de Odívia Barros que trata do assunto
exatamente dessa forma. Através de um conto protagonizado
pela menina Alice, que toma conhecimento do “segredo segredíssimo” de sua
amiguinha Adriana, traz elementos muito próximos a uma situação real de abuso
sexual, vivenciada por um grande número de crianças e adolescentes, e ensina
alguns passos básicos na pre venção
do problema, tais como reconhecer uma situação indesejada e contar para pessoas
de confiança, ou seja: não guardar o
segredo.
A ideia da autora de utilizar-se do
conto para levar o tema às crianças é inovadora e fácil e ser compreendida por
elas porque nos contos, nas estórias infantis, os processos interiores são
exteriorizados e passam a serem melhores compreendidos.
Não podemos tratar do abuso sexual como
um segredo irrevelável e mistificar a questão. Nas escolas, há educação sexual,
por que não falar sobre o abuso sexual e a
pedofilia? No conceito de
sustentabilidade está contida a ideia de não comprometer o futuro das próximas
gerações. Logo, a educação necessita se tornar sustentável através da proteção
a criança contra a pedofilia, pois abusados sexualmente tendem a ser abusadores
no futuro. O que estamos fazendo pelo futuro de nossas crianças? A questão do
abuso sexual é um assunto de difícil abordagem, mas necessária. Toda criança
tem o direito e merece ter uma infância feliz.
Nós, enquanto cidadãos, pais,
educadores, colaboradores e atores das organizações sociais podemos de alguma
forma contribuir com ações concretas para colocar a salvo de toda forma de
negligência, exploração, violência e crueldade, as crianças desse país.
Ednólia Fontenele
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